quinta-feira, 27 de agosto de 2009
SOB O SIGNO DA FRAGILIDADE...É PRECISO SER FORTE PARA SER FRÁGIL...
Como homem ciumento eu sofro quatro vezes: por ser ciumento, por me culpar por ser assim, por temer que meu ciúme prejudique o outro, por me deixar levar por uma banalidade; eu sofro por ser excluído, por ser agressivo, por ser louco e por ser comum.
Roland Barthes
Roland Barthes
A vida é também para ser lida. Não literalmente, mas em seu supra-senso. E a gente, por enquanto, só a lê por tortas linhas
Guimarães Rosa
Guimarães Rosa
OPER-AÇÃO ABRAÇO
Amor é síntese. É uma integração de dados. Não há que tirar nem pôr. Não me corte em fatias. Ninguém consegue abraçar um pedaço. Me envolva todo em seus braços. E eu serei o perfeito amor
MÁRIO QUINTANA
«(...) O termo "complexo" deve ser entendido no sentido original, que significa "aquilo que forma um conjunto". "Complexo" é, portanto, abraçar, dar um ABRAÇO.»
O pensar complexo: Edgar Morin e a crise da modernidade.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
LÍNGUA: RESULTADO DE QUEM A FALA E A ESCREVE
BABEL, UMA ALEGORIA PRIMORDIAL E SEMINAL
A maior aventura de um ser humano é viajar,
E a maior viagem que alguém pode empreender
É para dentro de si mesmo.
E o modo mais emocionante de realizá-la é ler um livro,
Pois um livro revela que a vida é o maior de todos os livros,
Mas é pouco útil para quem não souber ler nas entrelinhas.
E descobrir o que as palavras não disseram...
Augusto Cury
Tem palavra
Tem palavra que não é de dizer
Nem por bem nem por mal
Tem palavra que não é de comer
Que não dá pra viver com ela
Tem palavra que não se fala
Nem prum animal
Tem palavra louca pra ser dita
Feia, bonita
E não se fala
Tem palavra pra quem não diz
Pra quem não cala
Pra quem tem palavra
Tem palavra que a gente tem
E na hora H
Falta
Música: Marcelo Calderazzo - Letra: Alice Ruiz
LÍNGUA: IRREFUTAVELMENTE, PRODUTO E CONDIÇÃO DA VIDA SOCIAL
LJD
segunda-feira, 17 de agosto de 2009
TRABALHADOR DO MANGUE: HOMEM-CARANGUEJO (NÃO) CAIU NA "REDE"...
CORPO DE LAMA
Este corpo de lama que tu vê
é apenas a imagem que sou
este corpo de lama que tu vê
é apenas a imagem que é tu
[...] eu caminho como aquele grupo de caranguejos
ouvindo, a música dos trovões
[...] há muitos meninos correndo em mangues distantes
[...] essa rua de longe que tu vê
esse mangue de longe que tu vê
é apenas a imagem que é tu
(Chico Science,CSNZ, 1996)
Este corpo de lama que tu vê
é apenas a imagem que sou
este corpo de lama que tu vê
é apenas a imagem que é tu
[...] eu caminho como aquele grupo de caranguejos
ouvindo, a música dos trovões
[...] há muitos meninos correndo em mangues distantes
[...] essa rua de longe que tu vê
esse mangue de longe que tu vê
é apenas a imagem que é tu
(Chico Science,CSNZ, 1996)
A linguagem rompe a realidade opressora, por uma re-vira-volta cultural, política, social; dessa linguagem poderosa, transformadora, inovadora, diz-nos Foucault:
A façanha de ser prova: consiste não em triunfar realmente – é por isso
que a vitória não importa no fundo -, mas em transformar a realidade
em signos. Em signo de que os signos da linguagem são realmente
conforme às próprias coisas [...] o poeta é aquele que, por sob as
diferenças nomeadas e cotidianamente previstas, reencontra os parentes subterrâneos das coisas” (FOUCAULT)
que a vitória não importa no fundo -, mas em transformar a realidade
em signos. Em signo de que os signos da linguagem são realmente
conforme às próprias coisas [...] o poeta é aquele que, por sob as
diferenças nomeadas e cotidianamente previstas, reencontra os parentes subterrâneos das coisas” (FOUCAULT)
sexta-feira, 14 de agosto de 2009
A CURIOSIDADE, ABSURDAMENTE FANTÁSTICA...VIDA
A aprendizagem lúdica e curiosa
Vem, cara, me retrate
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui eu não sou de Marte
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte.
(Não) Só Por Curiosidade...
Observar é dar chance a curiosidade
E, portanto, possibilitar a descoberta
Se não, a redescoberta
É dar chance ao verdadeiro sentido da vida:
Acontecer, ser, viver, com-viver
E não morrer...ad-infinitum...
LJD
Vem, cara, me retrate
Eu não sou difícil de ler
Faça sua parte
Eu sou daqui eu não sou de Marte
Em alguns instantes
Sou pequenina e também gigante
O mundo é portátil
Pra quem não tem nada a esconder
Olha minha cara
É só mistério, não tem segredo
Vem cá, não tenha medo
Só não se perca ao entrar
No meu infinito particular
Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marisa Monte.
(Não) Só Por Curiosidade...
Observar é dar chance a curiosidade
E, portanto, possibilitar a descoberta
Se não, a redescoberta
É dar chance ao verdadeiro sentido da vida:
Acontecer, ser, viver, com-viver
E não morrer...ad-infinitum...
LJD
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
TRABALHAR, VERBO TRANSITIVO ( intertítulo do PPP do CE JOSE MARTI )
HEFESTO NA FORJA
Com satisfação acolhemos
Toda oportunidade
De discutir a questão
Quando queiram os senhores!
A todo momento
Pois o desemprego é para o povo
Um enfraquecimento.
Para nós é inexplicável
Tanto desemprego.
Algo realmente lamentável
Que só traz desassossego.
Mas não se deve na verdade
Dizer que é inexplicável
Pois pode ser fatal
Dificilmente nos pode trazer
A confiança das massas
Para nós imprescindível.
É preciso que nos deixem valer
Pois seria mais que temível
Permitir ao caos vencer
Num tempo tão pouco esclarecido!
Algo assim não se pode conceber
Com esse desemprego!
Ou qual a sua opinião?
Só nos pode convir
Esta opinião: o problema
Assim como veio, deve sumir.
Mas a questão é: nosso desemprego
Não será solucionado
Enquanto os senhores não
Ficarem desempregados!
Bertolt Brecht
Deus grego do fogo e, sobretudo, das ferrarias. Os romanos o identificaram com Vulcano; personifica a inventividade e a criatividade; o arquétipo de Hefesto está no âmago de um profundo instinto de trabalho e de criação a partir da "forja da Alma".
Esse Desemprego!
Meus senhores, é mesmo um problema
Esse desemprego!
Com satisfação acolhemos
Toda oportunidade
De discutir a questão
Quando queiram os senhores!
A todo momento
Pois o desemprego é para o povo
Um enfraquecimento.
Para nós é inexplicável
Tanto desemprego.
Algo realmente lamentável
Que só traz desassossego.
Mas não se deve na verdade
Dizer que é inexplicável
Pois pode ser fatal
Dificilmente nos pode trazer
A confiança das massas
Para nós imprescindível.
É preciso que nos deixem valer
Pois seria mais que temível
Permitir ao caos vencer
Num tempo tão pouco esclarecido!
Algo assim não se pode conceber
Com esse desemprego!
Ou qual a sua opinião?
Só nos pode convir
Esta opinião: o problema
Assim como veio, deve sumir.
Mas a questão é: nosso desemprego
Não será solucionado
Enquanto os senhores não
Ficarem desempregados!
Bertolt Brecht
PALAVRA DE HONRA!!! PALAVRA QUE HONRA...PALAVRA, QUE HONRA!!!
Uma Palavra
Palavra prima
Uma palavra só, a crua palavra
Que quer dizer
Tudo
Anterior ao entendimento, palavra
Palavra viva
Palavra com temperatura, palavra
Que se produz
Muda
Feita de luz mais que de vento, palavra
Palavra dócil
Palavra d'agua pra qualquer moldura
Que se acomoda em balde, em verso, em mágoa
Qualquer feição de se manter palavra
Palavra minha
Matéria, minha criatura, palavra
Matéria, minha criatura, palavra
Que me conduz
Mudo
E que me escreve desatento, palavra
Talvez à noite
Quase-palavra que um de nós murmura
Que ela mistura as letras que eu invento
Outras pronúncias do prazer, palavra
Palavra boa
Não de fazer literatura, palavra
Mas de habitar
Fundo
Uma palavra posta fora do lugar estraga o pensamento
mais bonito
Voltaire
quarta-feira, 12 de agosto de 2009
domingo, 9 de agosto de 2009
“ESCULTURAS PÚBLICAS”, QUE DIALOGAM E FAZEM PARTE DA PAISAGEM URBANA,UM “MERGULHO NA NATUREZA”; À LUZ DA PARTILHA DO SENSÍVEL
Umbigo da Terra I, escultura pública, em ágata, granito e cristais leitosos de quartzo; obra de Denise Milan, 1999 - Jardim das Esculturas - Museu de Arte do Parlamento de São Paulo - Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo
América
A pedra partiu,
a Terra se abriu
E do seu interior
jorrou um caldo cósmico
cozido com as entranhas do universo
.Rugas aquecidas,de origens esquecidas,
se ergueram.
Jogaram para um dos cantos
a parte da pedra, que hoje se diz América.
Para o outro, a que se diz África.
O fundo dos oceanos
ciscou a superfície.
No Sul, estrelas de silício
ficaram suspensas
nos subterrâneos da noite basáltica,
a orientar os desnorteios
da humanidade vindoura.
No Norte, os picos
de enormes montanhas submersas
despontaram como falos e seios.
Findo o vulcanismo sideral,
o erotismo refreou-se.
De Leste a Oeste,
as pedras transmitiram
os sentidos das profundezas,
escondidos pelas camadas civilizatórias.
Mandala de memórias da Terra,
arcaicas e futuras
a percorrer e ser percorrida
pelo espaço infinito.
E se... as águas juntassem as terras.
Primeiro, África e Américas
se encontrassem no espaço.
Depois,
todas as nações se aproximassem
com consciência
de serem
uma única,
enorme pedra azul.
A Terra.
Denise Milan
CONTRASTES E CONFRONTOS, UMA METÁFORA DE ...
NÓS MESMOS, ”ESTRANGEIROS” NO ESPAÇO PÚBLICO, DE CIMENTO "ARMADO"...
EM NOVEMBRO DE 2009, VINTE ANOS DA QUEDA DO MURO DE BERLIM, QUE DIVIDIA A ALEMANHA ENTRE CAPITALISMO E SOCIALISMO ( EUA E UNIÃO SOVIÉTICA)
A DIVISÃO DA ALEMANHA: DE 1945 A 1989; MAS É EM 1961 QUE , PEDRA SOBRE PEDRA, O MURO PASSA A SELAR A DIVISÃO DA ALEMANHA
EM 1989, FOI DERRUBADO O MURO, DELE FICOU A HISTÓRIA, ECOS DA EXCLUSÃO, MARCAS NOS CORPOS E NAS ALMAS DE UMA PARTE DA HISTÓRIA DO POVO ALEMÃO
ONDE ESTAVA O MURO, PARALELEPÍPEDOS , HOJE, DE-MARCAM O CHÃO, NÃO MAIS SEGREGANDO, DIVIDINDO; OUTROSSIM, RE-ACENDENDO, SEMPRE, A LUZ DA UNIÃO, COMO DESEJAM OS ALEMÃES
UM DOS MOMENTOS HISTÓRICOS MAIS IMPACTANTES DO SÉC. XX, O MURO DE BERLIM,VINTE ANOS DEPOIS DA QUEDA , VIRA SÍMBOLO DE TOLERÂNCI A
REZA A LENDA, QUE ERAM DOIS MUROS EM PARALELO; APÓS BERLIM TER CONSTRUÍDO O MURO, A ALEMANHA ORIENTAL CONSTRUIU, PARALELAMENTE , AO “MURO DE BERLIM”, UM MURO ; ENTRE ELES, FICAVA O “CORREDOR DA MORTE”; ATRAVESSÁ-LO ERA ENFRENTAR AS ARMADILHAS, AS BALAS QUE DEITAVAM AO CHÃO, PARA SEMPRE,OS QUE CRIAM PODER REALIZAR TAL TRAVESSIA, OU SERIA UMA DELIBERADA OPÇÃO DOS “FUGITIVOS” PELA MORTE?!
MURO DE BERLIM
NÃO , NÃO ERA UM MURO ALTO , REAL-MENTE,
À VERDADE DOS OLHOS,MAS...
ERA ALTO, “SABIA-SE” MUITO ALTO,VIRTUAL-MENTE
IMPONENTE, ABSOLUTO NA PAISAGEM
A NATUREZA SUBJUGADA PELO CONCRETO E MASSA
VILIPENDIADA, TRIPUDIADA, MAS NADA É PARA SEMPRE IGUAL
E QUAL FORÇA QUE DA POESIA EMANA
COMO JÁ PROFERIA GUIMARÃES ROSA:
“ – ABRE-TE, CÉSAMO,...E A PEDRA SE ABRIU.”
LJD
NÃO , NÃO ERA UM MURO ALTO , REAL-MENTE,
À VERDADE DOS OLHOS,MAS...
ERA ALTO, “SABIA-SE” MUITO ALTO,VIRTUAL-MENTE
IMPONENTE, ABSOLUTO NA PAISAGEM
A NATUREZA SUBJUGADA PELO CONCRETO E MASSA
VILIPENDIADA, TRIPUDIADA, MAS NADA É PARA SEMPRE IGUAL
E QUAL FORÇA QUE DA POESIA EMANA
COMO JÁ PROFERIA GUIMARÃES ROSA:
“ – ABRE-TE, CÉSAMO,...E A PEDRA SE ABRIU.”
LJD
sexta-feira, 7 de agosto de 2009
NATUREZA "NATURANTE" E INCLUSÃO,"HOSPITALIDADE INCONDICIONAL"
NINHO DE POMBA-ACOLHIDO, E ACOLHEDOR - EM BANANEIRA !!!
Jacques Derrida, De L´Hospitalité
Sou a favor do cosmopolitismo, mas preferiria chamar isso de outro modo, porque o cosmopolitismo na tradição cristã, paulina, assim como na tradição kantiana, é sempre uma mundialidade dos cidadãos, uma politização cosmopolítica, a dos cidadãos do mundo. De minha parte, sou a favor - situo isso nos “Espectros de Marx” - de uma solidariedade mundial que não seja simplesmente uma solidariedade entre os cidadãos, mas que poderia ser também uma solidariedade dos seres vivos, não constituindo justamente, em primeiro lugar, uma política dos cidadãos. Por isso me sinto pouco à vontade com a palavra política, utilizo-a com a condição de poder precisar tudo o que acabo de referir.
(...)Compartilho com outros a preocupação com a hospitalidade e as notícias sobre o drama dos estrangeiros, dos imigrados, dos exilados. Tento pensar uma hospitalidade incondicional que não esteja ligada à cidadania. Existem leis da hospitalidade ligadas à cidadania; Kant, por exemplo, quando fala do tratado da paz universal, pensa numa hospitalidade de cidadão para cidadão. Mas hoje devemos nos preocupar com pessoas que são lançadas fora de seus países, sem cidadania, e que não são respeitadas como cidadãos. É preciso pensar numa hospitalidade não mais voltada somente para cidadãos, porém que se dirija a qualquer um (...) o estrangeiro, o imigrado, o exilado etc. Todos os que, desde pelo menos a primeira guerra mundial, foram lançados na estrada do mundo: milhões de deportados, pessoas deslocadas, imigradas à força. Há pessoas sem estatuto... Sem documento...sem estatuto político, sem identidade nacional (...)
quinta-feira, 6 de agosto de 2009
PROFUSÃO DE SENTIDOS, SENTIMENTOS DO VASTO MUNDO
SOLANO TRINDADE - foto: J. B. Orerillo
GRAVATA COLORIDA
Quando eu tiver bastante pão
Quando eu tiver bastante pão
para meus filhos
para minha amada
pros meus amigos
e pros meus vizinhos
quando eu tiver
livros para ler
então eu comprarei
uma gravata colorida
larga
bonita
e darei um laço perfeito
e ficarei mostrando
a minha gravata colorida
a todos os que gostam
de gente engravatada...
QUÂNTICO TEMPO...
O 7º DIA DO RELOJOEIRO, FOTO-ARTE DE José d' Almeida & Maria Flores
Medo da Eternidade
Medo da Eternidade
Jamais esquecerei o meu aflitivo e dramático contato com a eternidade.
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou: - Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
- Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
- Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou-se o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
LISPECTOR, Clarice. Medo da eternidade. In: A descoberta do mundo
Quando eu era muito pequena ainda não tinha provado chicles e mesmo em Recife falava-se pouco deles. Eu nem sabia bem de que espécie de bala ou bombom se tratava. Mesmo o dinheiro que eu tinha não dava para comprar: com o mesmo dinheiro eu lucraria não sei quantas balas.
Afinal minha irmã juntou dinheiro, comprou e ao sairmos de casa para a escola me explicou: - Como não acaba? - Parei um instante na rua, perplexa.
- Não acaba nunca, e pronto.
- Eu estava boba: parecia-me ter sido transportada para o reino de histórias de príncipes e fadas. Peguei a pequena pastilha cor-de-rosa que representava o elixir do longo prazer. Examinei-a, quase não podia acreditar no milagre. Eu que, como outras crianças, às vezes tirava da boca uma bala ainda inteira, para chupar depois, só para fazê-la durar mais. E eis-me com aquela coisa cor-de-rosa, de aparência tão inocente, tornando possível o mundo impossível do qual já começara a me dar conta.
- Com delicadeza, terminei afinal pondo o chicle na boca.
- E agora que é que eu faço? - Perguntei para não errar no ritual que certamente deveira haver.
- Agora chupe o chicle para ir gostando do docinho dele, e só depois que passar o gosto você começa a mastigar. E aí mastiga a vida inteira. A menos que você perca, eu já perdi vários.
- Perder a eternidade? Nunca.
O adocicado do chicle era bonzinho, não podia dizer que era ótimo. E, ainda perplexa, encaminhávamo-nos para a escola.
- Acabou-se o docinho. E agora?
- Agora mastigue para sempre.
Assustei-me, não saberia dizer por quê. Comecei a mastigar e em breve tinha na boca aquele puxa-puxa cinzento de borracha que não tinha gosto de nada. Mastigava, mastigava. Mas me sentia contrafeita. Na verdade eu não estava gostando do gosto. E a vantagem de ser bala eterna me enchia de uma espécie de medo, como se tem diante da idéia de eternidade ou de infinito.
Eu não quis confessar que não estava à altura da eternidade. Que só me dava aflição. Enquanto isso, eu mastigava obedientemente, sem parar.
Até que não suportei mais, e, atrevessando o portão da escola, dei um jeito de o chicle mastigado cair no chão de areia.
- Olha só o que me aconteceu! - Disse eu em fingidos espanto e tristeza. - Agora não posso mastigar mais! A bala acabou!
- Já lhe disse - repetiu minha irmã - que ela não acaba nunca. Mas a gente às vezes perde. Até de noite a gente pode ir mastigando, mas para não engolir no sono a gente prega o chicle na cama. Não fique triste, um dia lhe dou outro, e esse você não perderá.
Eu estava envergonhada diante da bondade de minha irmã, envergonhada da mentira que pregara dizendo que o chicle caíra na boca por acaso.
Mas aliviada. Sem o peso da eternidade sobre mim.
LISPECTOR, Clarice. Medo da eternidade. In: A descoberta do mundo
[...] Sentir tudo de todas as maneiras,
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo, longínquo [...]
Álvaro de Campos
Viver tudo de todos os lados,
Ser a mesma coisa de todos os modos possíveis ao mesmo tempo,
Realizar em si toda a humanidade de todos os momentos
Num só momento difuso, profuso, completo, longínquo [...]
Álvaro de Campos
quarta-feira, 5 de agosto de 2009
SORRIA, VOCÊ ESTÁ SENDO CONTROLADO !!!
Da Sociedade Disciplinar à sociedade de Controle...
Do filósofo Gilles Deleuze sobre o trabalho de Michel Foucault; as recentes tecnologias de controle
Enfim, "trocando em miúdos(0u antes, para os "miúdos",ou, se não, para os "pequeninos", diríamos:
Sociedade de Controle = Sociedade do "mostra e esconde"..."sombras nada mais..."(?!)
LJD
terça-feira, 4 de agosto de 2009
A IMENSURÁVEL CAPACIDADE EVOCATIVA DA FOTOGRAFIA
Obra do Fotógrafo norte-americano Paul Strand
A intrigante fotografia intitulada "Young boy" foi feita em 1951, durante uma viagem à cidade de Gondeville, na França. Essa imagem foi amplamente discutida nos meios intelectuais, que a consideram como um dos grandes portraits do Século XX
O repórter da France-Culture Michel Boujut resolveu investigar o destino desse jovem. A única pista era a legenda da foto deixada por Paul Strand. O repórter viajou para Gondeville, onde conseguiu localizar a irmã. Dessa forma, a identidade do jovem foi revelada, trata-se de Claude Grigalvas, serralheiro, cinco filhos e aposentado. O Cerco foi se apertando, até que o repórter conseguiu enfim localizá-lo num modesto conjunto habitacional nas proximidades de Paris. O sinal dos tempos se expressava no rosto de Claude Grigalvas. Depois de vencer a sua resistência, ele não queria dar entrevista, ele disse que se lembra muito bem dessa foto em que ele foi forçado pelo pai a posar, contrariado por perder a pescaria. Ele se emociona ao lembrar desse Momento:
“ - Esse meu olhar na foto me angustia, eu era rebelde, eu poderia ter sido feliz, mais isso não foi possível”.
PARA VOCÊ, ALUNO-TRABALHADOR, AQUI VAI MAIS ESSA HISTÓRIA DE VIDA, REITERANDO A NOSSA TÔNICA, JÁ LUGAR COMUM, MAS NÃO TÃO COMUM QUE SE FAÇA INDISPENSÁVEL; OUTROSSIM, AINDA OPORTUNO:
VOCE, FAZ A SUA HISTÓRIA !!!
ASSIM, "TE CHAMAMOS", ALUNO-TRABALHADOR., "TE E -VOCAMOS"
TODAS AS NOITES...TODAS AS GENTES
PENSAMENTO RE-COR-RENTE
NOITE LUA
NOITE ESTRELA
NOITE NUVEM
NOITE CLARA
NOITE ESCURA
NOITE... CE JOSE MARTI
LJD
NOITE ESTRELA
NOITE NUVEM
NOITE CLARA
NOITE ESCURA
NOITE... CE JOSE MARTI
LJD
FESTINHA...EH, EU...?!
CANTAR. SEDUZIR...
Canta, canta minha gente
Deixa a tristeza pra lá
Canta forte, canta alto
Que a vida vai melhorar...
Quem canta seus males espanta
Lá em cima do morro ou sambando no asfalto...
Martinho da Vila
SEDUZIR
Cantar, é mover o dom do fundo de uma paixão
Seduzir, as pedras, catedrais, coração
Amar, é perder o tom nas com as da ilusão
Revelar, todo o sentido
Vou andar, vou voar, pra ver o mundo
Nem que eu bebesse o mar
Encheria o que eu tenho de fundo
DJVAN
Deixa a tristeza pra lá
Canta forte, canta alto
Que a vida vai melhorar...
Quem canta seus males espanta
Lá em cima do morro ou sambando no asfalto...
Martinho da Vila
SEDUZIR
Cantar, é mover o dom do fundo de uma paixão
Seduzir, as pedras, catedrais, coração
Amar, é perder o tom nas com as da ilusão
Revelar, todo o sentido
Vou andar, vou voar, pra ver o mundo
Nem que eu bebesse o mar
Encheria o que eu tenho de fundo
DJVAN
CANTA... EN – CANTA...
POR TODOS OS EN-CANTOS
CANTA... EN – CANTA...
POR TODOS OS EN-CANTOS
POR TODOS OS EN-CANTOS
CANTA... EN – CANTA...
POR TODOS OS EN-CANTOS
“Canta uma canção bonita,
falando da vida em ré maior!”
OSWALDO MONTENEGRO
falando da vida em ré maior!”
OSWALDO MONTENEGRO
“Tudo que eu quero é um acorde perfeito maior
com todo mundo podendo brilhar no cântico.
Canto somente o que não pode mais se calar...”
CAETANO VELOSO
“Canta uma canção bonita,
falando da vida em ré maior!”
OSWALDO MONTENEGRO
com todo mundo podendo brilhar no cântico.
Canto somente o que não pode mais se calar...”
CAETANO VELOSO
“Canta uma canção bonita,
falando da vida em ré maior!”
OSWALDO MONTENEGRO
“Tudo que eu quero é um acorde perfeito maior
com todo mundo podendo brilhar no cântico.
Canto somente o que não pode mais se calar...”
CAETANO VELOSO
com todo mundo podendo brilhar no cântico.
Canto somente o que não pode mais se calar...”
CAETANO VELOSO
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