GOVERNO
DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO- SECRETARIA
DO ESTADO DE EDUCAÇÃO
DIRETORIA REGIONAL
METROPOLITANA III- C. E. JOSE MARTI
Sábado
Letivo – 29 de março de 2014
Os darwinistas estavam errados( Rafael Garcia)
Folha de São Paulo-08/06/12
QUANDO UM JUIZ AMERICANO da cidade de Dover, na Pensilvânia,
deu ganho de causa a um grupo de pais que processava uma escola pública por
ensinar conceitos criacionistas a seus alunos, cientistas comemoraram. Apesar
de ter ocorrido em em um tribunal local, o julgamento
vinha sendo coberto por vários jornais dos Estados Unidos, e havia a
expectativa de que a vitória, obtida em 2005, fosse se refletir na opinião
pública reduzindo a influência de movimentos religiosos conservadores que
tentavam sabotar o ensino da teoria da evolução no país.Os biólogos que
defendiam Darwin, porém, estavam errados em esperar um recuo dos criacionistas.
Uma pesquisa de opinião divulgada
na semana passada pelo Instituto Gallup mostra que, sete anos depois, 46% dos
americanos acreditam que Deus criou a espécie humana do nada. O número é o
mesmo de 30 anos atrás, quando o levantamento foi feito pela primeira vez.
O que os professores
de biologia se perguntam agora é: o que pode ser feito? Por que as pessoas são
tão refratárias à ideia da evolução por seleção natural? Por que esforços
educacionais e as incontáveis obras de divulgação científica sobre o assunto
têm sido inócuas na tentativa de manter o fundamentalismo religioso longe da
ciência?
No Brasil, por
enquanto, é difícil projetar a tendência de crescimento do criacionismo. Uma pesquisa do Datafolha feita
dois anos atrás mostra que 25% da população acredita na versão bíblica da
origem da humanidade. Não sei se há dados mostrando quantos mais acreditam no
“design inteligente”, a teoria criacionista que evita falar em Adão e Eva, mas
defende o mesmo ponto.
Num país onde a
educação ainda é um direito mal assegurado, dá medo. Muita gente confia que o
curso natural da cultura humana fará com que ela abrace a ciência cada vez
mais, mas nem sempre é assim. Um exemplo de que retrocessos ocorrem veio da
Coréia do Sul, na semana passada. O país não apenas deixou de repelir a
influência criacionista na educação como também aceitou demandas de religiosos
para expurgar Darwin dos manuais de
biologia.
A falta de pesquisas
de opinião sobre criacionismo ainda torna difícil avaliar o problema em escala
global, mas eu me arrisco a dizer que biólogos e educadores sérios, hoje, estão
perdendo essa guerra.
Não vou discutir aqui
o mérito de grupos conservadores em conseguir espalhar o evangelho do
criacionismo. É inútil tentar convencer o inimigo de que sua causa é nociva.
Mas acredito que nós, divulgadores da ciência, estejamos cometendo alguns
erros.
Primeiro, não são
julgamentos espetaculosos em tribunais que vão resolver esse tipo de problema.
Cientistas já tinham tentado isso uma vez, em 1925, quando o professor de
biologia John Thomas Scopes violou uma lei do estado do Tennessee que proibia o
ensino de evolução. Scopes foi absolvido em última instância, mas com uso de
uma manobra técnica (o primeiro juiz aplicara uma multa ilegal). O julgamento
acabou com os biólogos cantando vitória, enquanto os criacionistas se
consideraram “campeões morais”.
É necessário que haja
segurança jurídica para o ensino da evolução, sim, mas suspeito que juízes e
suas sentenças não têm o poder de mudar a cabeça das pessoas. Logo, acredito
que aquilo que está faltando aos professores de ciências é uma estrutura mais
proativa para fazer estudantes de fato entenderem de que se trata a evolução. A
praga criacionista cresce no terreno fértil do analfabetismo científico.
Ironicamente, talvez os educadores tenham algo a aprender com a tática de
guerrilha dos grupos criacionistas, que atuam de forma descentralizada para
espalhar suas ideias.
Segundo, é preciso
evitar que o combate ao criacionismo se transforme numa cruzada contra a
religião em si. Transformar o ensino de evolução em patrulha ideológica só vai
fazer com que a rejeição a Darwin aumente. Richard Dawkins, possivelmente o
maior porta-voz da luta anti-criacionismo no mundo, adotou essa abordagem ao
escrever “Deus, um delírio” em 2006. O livro
fez muito barulho ao ser lançado no mesmo ano de “Deus não é Grande“, do ensaísta Christopher Hitchens.
Sou bastante cético
quanto ao potencial que tais autores têm de converter a turba criacionista.
Particularmente, acho incômodo o fato de os dois textos basearem sua
argumentação na crença de que a religião torna o mundo um lugar pior para se
viver. Não é isso o que a própria ciência diz, e as evidências estão na maior revisão de estudos de sociopsicologia da
religião já feita sobre o assunto, publicada em 2008 na prestigiada revista
“Science”.
Para resumir, então,
acredito que o combate ao criacionismo se beneficiaria de uma atitude mais
ponderada dos biólogos. É preciso explicar que a teoria da evolução não está em
conflito com uma compreensão religiosa mais sofisticada sobre a natureza, e não
se pode embutir a pregação ateísta no ensino da biologia, porque a evolução não
se trata disso. Além disso, é preciso mobilizar forças fora do âmbito oficial
para dar fôlego ao ensino da biologia. Por que há tão poucas ONGs de educação
se dedicando ao problema? Suspeito que as iniciativas para ensinar evolução
fora do ambiente escolar estejam em falta. Quantas cidades têm o luxo de
possuir um museu de história natural? Os criacionistas já estão começando a se
mobilizar para montar os museus deles. Os biólogos
precisam esperar o dinheiro do Estado para ampliar suas ações?
Não há como combater
a ignorância sem investir na educação como um bem coletivo, e não há como frear
o dogmatismo religioso tentando impor o ateísmo na marra. Se existe um desejo
inconsciente dos cientistas de que todos se tornem ateus, talvez ele se realize
num mundo onde as pessoas tenham bom repertório cultural e se sintam livres
para pensar. Não vejo outro caminho.
A Equipe Diretiva e Corpo Docente do C.
E. Jose Marti
Lucia de J. Duarte
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