quarta-feira, 30 de junho de 2010

EM DEFESA DA PALAVRA: A CULPA NÃO É DA PALAVRA, MAS, SIM, DE QUEM A USA ( ( para o /de) "MAL')


RECEITA PRA LAVAR PALAVRA SUJA
Mergulhar a palavra suja em água sanitária.
Depois de dois dias de molho, quarar ao sol do meio dia.
Algumas palavras quando alvejadas ao sol
adquirem consistência de certeza.

Por exemplo, a palavra vida.
Existem outras, e a palavra amor é uma delas,
que são muito encardidas pelo uso,

o que recomenda esfregar
e bater insistentemente na pedra,

depois enxaguar em água corrente.
São poucas as que resistem a esses cuidados,

mas existem aquelas.
Dizem que limão e sal tiram sujeira difícil, mas nada.
Toda tentativa de lavar a piedade foi sempre em vão.
Agora nunca vi palavra tão suja como perda.
Perda e morte na medida em que são alvejadas
soltam um líquido corrosivo,

que atende pelo nome de amargura,
que é capaz de esvaziar o vigor da língua.
O aconselhado nesse caso é mantê-las sempre de molho
em um amaciante de boa qualidade.

Agora, se o que você quer
é somente aliviar as palavras do uso diário,

pode usar simplesmente
sabão em pó e máquina de lavar.
O perigo neste caso é misturar palavras que mancham
no contato umas com as outras. Culpa, por exemplo,
a culpa mancha tudo que encontra

e deve ser sempre alvejada sozinha.
Outra mistura pouco aconselhada é amizade e desejo, já que desejo,
sendo uma palavra intensa, quase agressiva, pode,
o que não é inevitável, esgarçar a força delicada da palavra amizade.
Já a palavra força cai bem em qualquer mistura.
Outro cuidado importante é não lavar demais as palavras
sob o risco de perderem o sentido.
A sujeirinha cotidiana, quando não é excessiva,
produz uma oleosidade que dá vigor aos sons.
Muito importante na arte de lavar palavras
é saber reconhecer uma palavra limpa.
Conviva com a palavra durante alguns dias.
Deixe que se misture em seus gestos,

que passeie
pela expressão dos seus sentidos.

À noite, permita que se deite,
não a seu lado, mas sobre seu corpo.
Enquanto você dorme, a palavra,

plantada em sua carne,
prolifera em toda sua possibilidade.
Se puder suportar essa convivência até não mais
perceber a presença dela,
então você tem uma palavra limpa.
Uma palavra limpa é uma palavra possível.

Viviane Mose, Filósofa e psicanalista



TODO AFAZER HUMANO SE DÁ NA LINGUAGEM, E O QUE NA VIDA DOS SERES HUMANOS NÃO SE DÁ NA LINGUAGEM NÃO É AFAZER HUMANO; AO MESMO TEMPO, COMO TODO AFAZER HUMANO SE DÁ A PARTIR DE UMA EMOÇÃO, NADA DO QUE SEJA HUMANO OCORRE FORA DO ENTRELAÇAMENTO DO LINGUAJAR COM O EMOCIONAR E, PORTANTO, O HUMANO SE VIVE SEMPRE NUM CONVERSAR(...)SENDO O AMOR A EMOÇÃO QUE FUNDA A ORIGEM DO HUMANO, E SENDO O PRAZER DO CONVERSAR NOSSA CARACTERÍSTICA, RESULTA EM QUE TANTO NOSSO BEM ESTAR COMO NOSSO SOFRIMENTO DEPENDEM DO NOSSO CONVERSAR(...)


Fragmento extraído de " A ONTOLOGIA DA REALIDADE" DE H. MATURANA, 2001



E TÔ ACHANDO BOM, TÔ REPETINDO QUE BOM, DEUS, QUE SOU CAPAZ DE ESTAR VIVO SEM VAMPIRIZAR NINGUÉM, QUE BOM QUE SOU FORTE, QUE BOM QUE SUPORTO, QUE BOM QUE SOU CRIATIVO E ATÉ ME DIVIRTO E DESCUBRO A GOTA DE MEL NO MEIO DO FEL. COLEI AQUELE “EU AMO VOCÊ” NO ESPELHO. É PRA MIM MESMO.
Caio Fernando Abreu

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